terça-feira, 15 de abril de 2008

À PROCURA DA PALAVRA

P. Vítor Gonçalves

DOMINGO V DA PÁSCOA Ano A

“As palavras que Eu vos digo, não as digo por Mim próprio;
mas é o Pai, permanecendo em Mim, que faz as obras.”
Jo 14, 10

Com que voz?

Dizem os pediatras que o bébé aprende a reconhecer as vozes ainda mesmo na barriga da mãe. E não é preciso ninguém dizer-nos que há vozes que nos transmitem paz, segurança e alegria, e outras não. Não guardamos dentro de nós vozes e palavras que são pilares n a nossa construção pessoal? E talvez outras, de que era importante libertarmo-nos, porque funcionam como "discos riscados" a impedir o crescimento da melodia das nossas vidas!
No meio de tantas vozes, partilho convosco o eco da serena e lúcida reflexão de Daniel Sampaio na Pública de domingo passado sobre "as vozes dos pais". Começa por dizer que a voz dos pais deve ser baixa ("É difícil e pouco oportuno gritar o amor..."), seja a voz da não repetição ("Ditas as coisas uma vez, não interessa massacrar..."), a voz do exemplo ("A coerência dos pais é vital..."), a voz do poder ("sempre que estiver em causa a saúde e segurança dos filhos, não há que hesitar..."), a voz da segurança, e a voz da disciplina ("construída através de uma relação de respeito mútuo"). Com o risco do simplismo, há para Daniel Sampaio, vozes boas e vozes más, umas a construir e outras a dificultar o crescimento: "perante as dúvidas, indisciplina e insegurança de tanta gente nova, a resposta só pode ser uma: a voz coerente de mais adultos".
Neste cruzar de linhas da vida e do Evangelho pergunto-me: com que voz procuramos transmitir aquilo que dizemos encher-nos o coração? O que podemos aprender, como pais e educadores, como cristãos e corresponsáveis, destas sugestões de Daniel Sampaio? Os conteúdos, os valores podem não passar de "ideias bonitas" se não compreendermos e amarmos a realidade, e, principalmente se não os vivermos com coragem e alegria. Espanto-me sempre com a pedagogia de Jesus: entrou profundamente na realidade humana e captou nela "Deus a dizer-se" nas pessoas; foi no ritmo da vida partilhada que se foi revelando "um com o Pai", com a voz e as obras do Pai. Uma voz que primeiro se detém a escutar o clamor, a dor, a sede de justiça e verdade do outro, e só depois pronuncia a límpida e única palavra do amor incondicional. Uma voz que abre caminhos novos e revela qualidades escondidas.
Não creio que as relações entre pessoas possam resultar de "cartilhas decoradas" ou "receitas milagrosas". Todo o diálogo implica descer do "pedestal" e vir à terra sujar os pés. Olhar de frente a realidade, descobrindo nela a voz de Deus é condição dos discípulos de Cristo. Com que voz damos conta dessa descoberta?

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